A projeto apresenta um conjunto de propostas elaboradas a partir da motivação coletiva em torno do neologismo |inter|dito|.
O sentido comum do termo interdito (do lat. Interdictus) diz de um impedimento a uma ação latente. Este potencial impedimento sobre algo que é iminente, dirá de uma proibição tanto quanto de uma reação. Reagir a uma interdição pode ser uma subversão, mas também pode ser considerado como não-submissão, não-consentimento. No campo semântico da palavra encontramos as ideias de suspenções punitivas, tabu, e também a passagem interrompida. O impedimento ou a suspensão do olhar pode determinar tanto o voyeur quanto o místico, aquele que olha para seu próprio interior. O que nos conduz ao enigmático, ao simbólico, ao espiritual e ao imaterial.
Consideramos a potência da palavra interdito cujo desmembramento gráfico em dois termos — |inter| e |dito| — manifesta a possibilidade de agenciar o que se agrega entre intenções e feitos. Revela o propósito de operar na borda entre o que se sabe e o que não se conhece ainda. Palavras e imagens, conceitos e formas se aproximam para construir e desconstruir significados que intermetem, justamente, nesse espaço entre. |inter|, entre, se interpõe ao que está |dito| não como impedimento mas como abertura semântica de conceitos, procedimentos e propostas que se trabalha intencionalmente.
Pensamos |inter|dito| como não lugar, fissura que se coloca entre o que se pretende abordar e o que acontece durante a instauração do trabalho artístico. Leva-se em conta a possibilidade de tirar partido do que se esgueira entre o conceito e a imagem, admitindo-se o que se introduz por obstáculo.
Assim, as propostas reunidas na exposição sugerem entre-ver enunciados poéticos para além do visível, integrando o dizível, e o audível. Admite-se dar vazão ao transbordamento — isso porque se entende que a imagem não é exclusividade do visível, — e considera-se a possibilidade de haver visibilidade em sons, palavras e movimentos e, até mesmo, a possibilidade de haver visibilidade que não faz imagem.
Sandra Rey e Beatriz Rauscher